Como vimos em nossas aulas, a intertextualidade é apresentada de várias maneiras, a conhecida "Canção do Exílio" do poeta Gonçalves Dias, é um dos textos mais revisitados de nossa Literatura.
Canção do Exílio
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Gonçalves Dias
Outra Canção do Exílio
Minha terra tem Palmeiras,
Corinthians e outros times
De copas exuberantes
Que ocultam muitos crimes.
As aves que aqui revoam
São corvos do nunca mais,
A povoar nossa noite
Com duros olhos de açoite
Que os anos esquecem jamais.
Em cismar sozinho, ao relento,
Sob um céu poluído, sem estrelas,
Nenhum prazer encontro eu cá;
Porque me lembro do tempo
Em que livre na campina
Pulsava meu coração, voava,
Como livre sabiá; ciscando
Nas capoeiras, cantando
Nos matagais, onde hoje a morte
Tem mais flores, , nossa vida
Mais terrores, noturnos,
De mil suores fatais.
[...]
Eduardo Alves da Costa
Neste poema o autor de tempos modernos não quer exuberar a beleza do Brasil, mas chamar a atenção para os problemas encontrados hoje nestas terras. De qualquer modo este tema e a intertextualidade possuem varias vozes o que nos remete a certeza de que Gonçalves Dias ainda hoje apresenta muitos seguidores dando inúmeras vozes ao seu poema.
Vejamos o diálogo intertextual com o referido poema de algumas outras obras segundo Rebello (2010):
Na mesma época em Gonçalves Dias criou A canção do Exílio, Casimiro de Abreu também escreveu uma "canção do exílio", como citado acima:
Eu nasci além dos mares:
os meus lares,
Meus amores ficam lá!
- Onde canta nos retiros
seus suspiros,
Suspiros de sabiá!
(...)
Em outro poema, Casimiro de Abreu usa como epígrafe os dois primeiros versos do poema de Gonçalves Dias:
Minha Terra
Minha terra tem palmeiras
onde canta o sabiá
Todos cantam sua terra,
também vou cantar a minha
Nas débeis cordas da lira
hei de fazê-la rainha;
(...)
E, no Modernismo, com um tom de crítica, assim escreve Murilo Mendes a sua Canção do exílio:
Minha terra tem macieiras da Califórnia,
onde cantam gaturamos de Veneza.
(...)
Ai quem me dera comer uma carambola de verdade
e ver um sabiá com certidão de idade.
Drummond também escreve a sua Nova canção do exílio, que é dedicada a Josué Montello:
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.
(...)
Só na noite,
seria feliz;
um sabiá,
na palmeira, longe.
(...)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
o fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
O poeta Mário Quintana escreve também a sua canção, mas com um olhar bem crítico e irônico:
Minha terra não tem palmeiras...
Em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
(...)
Mais recentemente, por volta dos anos 70, Cacaso, satirizando a ditadura, escreve:
Minha terra tem palmeiras
onde canta o tico-tico
Enquanto isso o sabiá
vive comendo o meu fubá.
Ficou moderno o Brasil
ficou moderno o milagre:
a água já não vira vinho,
vira direto vinagre.
Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/intertextualidade-as-multiplas-vozes-na-cancao-do-exilio/66525/#ixzz1zCnCwqfn
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